OIT: COVID-19 impõe novos desafios à segurança no trabalho

O mundo do trabalho foi revirado pela COVID-19 e os efeitos provavelmente serão duradouros. Antes da pandemia, havia cerca de 260 milhões de trabalhadores em casa (sem incluir trabalhadores domésticos ou cuidadores). A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que esse número pode ter dobrado, com até um em cada três trabalhadores trabalhando remotamente na América do Norte e na Europa e um em cada seis na África Subsaariana.

A aplicação de vacinas, principalmente no mundo desenvolvido, aumentou as possibilidades de um retorno ao local de trabalho, mas muitas empresas e trabalhadores sinalizaram o desejo de manter uma parte do trabalho em casa, depois de ver alguns dos benefícios. Para os empregadores, isso inclui minimizar o risco de contágio e, potencialmente, gastar menos em escritórios caros, enquanto os funcionários não precisam mais se deslocar para ir e voltar do local de trabalho.

Saúde mental

No entanto, enquanto alguns estão gostando de assar pão ou dar um passeio durante uma teleconferência e usar o tempo de deslocamento para se entregar a novas atividades, outros desejam um retorno a uma rotina de trabalho mais estruturada.

“Digo a mim mesmo diariamente que sou grato por ter um trabalho com supervisores e colegas compreensivos. Mas tudo isso é difícil. Se você também é uma mãe que trabalha e perde a cabeça diariamente, saiba que estou com você”, diz Paulina, uma tele trabalhadora que mora em Nova York.

“Eu presidi reuniões com um laptop e fones de ouvido em um dos lados de uma pequena cozinha da cidade de Nova York enquanto preparava o almoço e tinha uma criança gritando enrolada em meus tornozelos. Embora tudo isso seja fofo uma ou talvez duas vezes, gritos regulares de crianças ao fundo só podem ser tolerados por algum tempo. Eu deveria saber, porque eu ultrapassei esse limite em algum momento de julho”, contou. Histórias como essa explicam por que um estudo recente da OIT descobriu que 41% das pessoas que trabalhavam em casa se consideravam altamente estressadas, em comparação com 25% das que trabalhavam presencialmente.

“A forma mais eficaz de eliminar o risco de contágio em contexto de trabalho é, para quem pode fazê-lo, o tele trabalho”, afirma o responsável pela segurança e saúde no trabalho da OIT, Joaquim Nunes, “Mas ainda temos de estar atentos aos bem-estar físico e mental dos trabalhadores”.

Como o tele trabalho provavelmente continuará sendo um fator importante no trabalho de muitas pessoas, Nunes diz que as políticas relacionadas ao trabalho terão de ser atualizadas para refletir a nova realidade.

“Há uma boa chance de que o aumento do tele trabalho durante a pandemia da COVID-19 mude permanentemente a forma como vivemos e trabalhamos. Muitos governos perceberam isso e estão olhando com outros olhos os direitos dos funcionários que trabalham em casa. Por exemplo, as empresas devem garantir que os trabalhadores não se sintam isolados e ao mesmo tempo dando a eles o direito de se desconectarem, em vez de ficarem online 24 horas por dia”, afirma o especialista da OIT.

No Chile, uma lei aprovada no início de março de 2020 aborda de alguma forma algumas dessas preocupações. A legislação reconhece o direito dos trabalhadores remotos de se desconectarem por pelo menos 12 horas contínuas em um período de 24 horas. Além disso, os empregadores não podem exigir que os trabalhadores respondam às comunicações em dias de descanso ou feriados.

Uma casa saudável

Além da questão de conforto e saúde mental, está a segurança física. Costuma-se dizer que a maioria dos acidentes acontece em casa, então, se é aqui que se passa grande parte da semana de trabalho, os empregadores deveriam ser responsáveis ​​por garantir que os apartamentos não sejam uma armadilha mortal?

“Por enquanto, não há respostas fáceis quando se trata de garantir um ambiente de home office adequado”, diz Nunes. “No entanto, podemos dizer que os mesmos princípios que se aplicam a outros locais de trabalho, se aplicam aos tele trabalhadores, sendo que os empregadores têm o dever geral de cuidar, conforme razoavelmente praticável. Os empregadores não podem controlar o local de trabalho quando os funcionários trabalham de casa, mas podem fornecer equipamentos ergonômicos aos trabalhadores, como cadeiras adequadas, e ajudá-los a avaliar os próprios riscos e aprender como manter estilos de vida saudáveis”.

O tele trabalho também é um desafio para as agências de fiscalização, já que normalmente os inspetores não têm acesso liberado aos espaços privados. Uma solução para garantir o cumprimento da legislação poderia ser as inspeções virtuais, que já estão ocorrendo nos países nórdicos de forma voluntária. “Isso envolve os fiscais do trabalho que fazem videochamadas com o trabalhador em casa e mostram a cadeira de trabalho, a mesa e a configuração da iluminação”, explica Nunes. “Essas inspeções podem servir como uma forma de monitorar o local de trabalho doméstico e fornecer conselhos, mas também levantam questões compreensíveis de privacidade”.

Fonte: Site Proteção+

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